Friday, November 30, 2012

Acaba tudo, até os blogs

Vi o filme fados para um evento cultural, e realmente foi.  Gostei muito, porque não sei muito sobre fado (apesar de servir em portugal, não passei muito tempo ouvir a música).  Não sabia que foi tão ligado com a música dos outros países.  Como um filme foi um pouco difícil assistir, pois não tem muita estrutura, só deu vários exemplos da música, mas a música foi muito boa, e as danças serviram para desenvolver mais a história nela. A cinematographia também foi muito interessante, e gostei como usaram cores, sombra, e vídeo para sublinhar a emoção. Cinco estrelas! (não me lembro bem se dizemos nisso em inglês, mas sempre gostava muito dessa expressão)


'Azuis' sempre foi uma das minhas palavras preferidas

Foi assistir Os Olhos Azuis da Yonta no international cinema.  Não sei como senti sobre o filme.  Foi bem feito, sem questão, e foi interessante ver a vida lá em africa, sendo que conheci tantas pessoas de lá.  No entanto, talvez não entendi muito bem o filme, porque senti que não se resolveu.  O amigo de , que é tão dramático, e com quem ele quer tanto reunir, finalmente chega, e então nada acontece.  Por um momento pensei que ele ia ficar maluco e matar todos, mas então só saia, e o filme termina.  Foi interessante, mas as vezes perecia que estava a tentar ser artistica só por ser, distrai um pouco.  No entanto, gostei de ver guiné, só para entender melhor as pessoas que de lá vieram.

Entre as brumas da memória

"Boa gente. Os vizinhos dão-se todos bem...bom, quer dizer, há alguns..."
Dot.com

Gostei muito deste filme (do parte que vi até agora, depois o internet parou e precisei escrever isto e dormir).  Provavelmente seja mais as minhas saudades, em que quase exactamente três anos que cheguei em portugal, mas vejo que este filme encaixa quase perfeitamente o dinâmico que existe em portugal, entre a geração velha, que adora tradição, a vizinhança, e o orgulho de ser português.  Este conflito, se assim podemos dizer, existe em toda parte, mas em portugal é especialmente forte porque a idade média está a tornar-se cada vez mais velha, enquanto o mundo muda cada vez mais rapido.  Há aldeias onde parace que nada mudou desde sempre, mas o mundo sempre se obriga a mudar.

Também todos nos sentimos, de vez em quando, que somos nós os unicos solteiros num aldeia pequena, um lago das velhas e casadas.

Em fim, gostei muito deste filme, mesmo que seja por ser tão português, e ainda que seja paródia as vezes, não desvia assim tanto da verdade.  Para alguém que nunca visitou Portugal, se quiser saber como é, é mesmo assim.

Thursday, November 15, 2012

O mundo inteiro é um palco

"Não é inteiramente falso, porque sem dúvida nada é inteiramente falso."
"O Marinheiro", Fernando Pessoa (como A Carlos Franco)

O marinheiro mergulha-se na metaficção, mas não há nada assim muito novo sobre metaficção, embora ainda tem peso para nós.  O que é mais interessante sobre esta peça, e Fernando Pessoa em geral, é a meta-verdade que ele cria, e também a profundeza (ou a altura da ficção/verdade).  Começamos comigo, mas em verdade já estás a ler isto, então a muito mais níveis ainda: Eu existo.  Podiamos falar muito sobre isso, mas vamos dizer que há uma pessoa que eu realmente sou.  Mas além disso tem a pessoa que eu represento.  A voz que aparece quando eu escrevo ensaios, a minha parte, que represento.  E então tem esta pessoa, que talvez não seja exatamente quem eu sou, que está a ler esta peça, por Fernando Pessoa.  Mas não é Fernando Pessoa que a escrevi, foi A Carlos Franco, a personagem que Pessoa criou, que escreve a peça.  Na história, temos as três pessoas, uma delas canta uma história: O Marinheiro.  Só no titulo vemos o papel central da metaficção.  E nesta história, o marinheiro cria um mundo inteiro que se canta, por que é preferível a verdade, mas como disse no início, não é inteiramente falso, pois nada é.

Ai vemos a mensagem destas níveis contínuas: não somos tão concretos quanto pensamos, nós somos atores, nós somos falsos, mas também é por estas falsificações que vemos verdade alguma.

Thursday, November 8, 2012

O pano cai lentamente

"Zé - Santa Bárbara me abandonou, Rosa!
Rosa - Se ela abandonou você, abandone também a promessa.  Quem sabe se não é ela mesma que não quer que você cumpra o prometido?
Zé - Não... mesmo que ela me abandone, eu preciso ir até o fim.  Ainda que já não seja por ela... que seja só pra ficar em paz comigo mesmo."
Terceiro Ato, O Pagador de Promessas por Dias Gomes

Eu não sei como me sinto em relação a esta peça e ao Zé.  Como podemos sentir?  Toda a sua dedicação, toda a sua crença e determinação, será que não seja mais do que teimosia?  Será que ele não seja mais de burro, teimosamente se mantendo no seu rabo enquanto todas as pessoas e toda razão o empurram para mudar?

Precisa de ser mais do que isso.  O problema é que para mim, nas minhas promessas, eu vejo que sou abençoado quando as cumpro.  Isso é a"lei, irrevogavelmente decretada nos céu".  E isso não é unico para a nossa igreja, nós, como seres humanos, sentimo-nos que a vida deve ser justa, e que se fizermos tudo certinho então tudo vai correr bem.  Portanto no início, não nos sentimos que seja tolice ou teimosia que Zé fica.  Rosa parece queixosa e fraca, mas pelo fim, muda-se: Rosa torna-se a única pessoa que vê razão e que está com Zé.

Em fim, este é um tragédia, sabia que Zé ia morrer, pois diz logo na introdução, mas como disse a semana passada, não me sinto catarse na tragédia, vejo tudo que é injusto no mundo.  Mas talvez estou a perder o significado maior, pois em verdade estou meio doente. A vida é assim.

Thursday, November 1, 2012

É essa. Só pode ser essa.

"O que nos interesse não é o dogmatismo cristão, a intolerância religiosa -- é a crueldade de uma engrenagem social construída sobre um falso conceito de liberdade."

É rara num conto que o autor explica a mensagem e o propósito do texto, mas é exactamente isso que o Dias Gomes faz para nós.  Mas vendo que esta é uma peça, é necessária.

No entanto, faz com que a interpretação do significado da peça seja um pouco menos interessado para o leitor.  Em vez disso, podia-se expressar este sentimento, ao apresentar a peça.  Nós não temos tal oportunidade, mas podemos encontrar as instâncias disso no texto. A maior exemplo (até agora, na minha leitura) é quando o padre não deixa Zê entrar na igreja.  Depois de tudo que Zê sufreu, a injustiça de não lhe deixar entrar toca-nos e faz-nos frustrado da toda a injustiça que realmente existe. De acordo com a interpretação do Joseph Kelly, este é a função da tragédia, catarsis.


Thursday, October 25, 2012

abaixo dos puristas

"Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

--Não quero mais saber do lirismo que não é libertação"

Poética, Manuel Bandeira

Escrevi um soneto esta semana.  Eu gosto de soneto, eu gosto de shakespeare, gosto da forma e estrutura e a maneira que organiza e aumenta o significado.  Mas ao escrever o soneto, fiquei chateado que tive de mudar o sentimento das palavras para caber num formato tão rigido.  Em verdade eu simplesmente não tinha tempo para achar as palavras perfeitas, mas entendo esta reclamação.  Também esta semana estou a ler muitos trabalhos acadêmicos, que podem encher com pretenso.  

Por fim, por que ainda tenho muito escrever além dos blogs divertidos, Manuel Bandeira usa a ausência da forma para enfatizar o seu ponto, que o significado não deve ser subserviente ao forma e estilo prescritos.